sexta-feira, 30 de maio de 2008

terça-feira, 27 de maio de 2008

Para a Cadi

Era uma miúda meio assustada, perdida e imóvel à porta do hotel. A situação em Díli, no final de 1999, era ainda perigosa, as forças das Nações Unidas ainda não controlovam todo o território de Timor-Leste.


Não sei há quanto tempo por lá andava quando dei com ela. Sei que estava parada, imóvel, à espera do dia em que a fossem buscar, como se já tivesse ido embora. Falava de uma menina com saudade e emoção e por ela recusava-se a levar na cara com a exposição da extrema miséria que matava crianças à fome e doença.


O Leonel de Castro arrastou-a connosco por duas ou três vezes em deslocações difíceis, mas não de risco, e ela agradeceu a cumplicidade com um sorriso bonito num olhar aberto, vivo, e com palavras, muitas palavras, nenhuma guineense, até parecia que nunca mais se calava.


A Cadi Fernandes morreu nesta segunda-feira de cancro no pulmão. E a memória do tempo em que a profissão também significava felicidade está cada vez mais povoada de gente que, de algum modo, acabou por desaparecer.



P.S.: já depois de publicadas estas linhas, dou de frente com um belo texto de um outro grande cronista português, Fernando Madail, do DN, tal como a Cadi. Uma pequeníssima parte do que lá está reproduzido também faz parte de mim.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um mentiroso compulsivo

O senhor primeiro-ministro continua a mentir. E mente tanto que, um dia destes, ainda sou tentado a pensar que José Sócrates, afinal, é um mentiroso compulsivo.

Declaração política, num debate na Assembleia da República, a propósito dos voos da CIA: "Nenhum membro do Governo autorizou ou recebeu um pedido de transferência de prisioneiros [para Guantánamo] (...) isso nunca aconteceu".

Blá-blá-blá, blá-blá-blá. Confira com a gravação:


Mas, afinal, a 23 de Maio deste mesmíssimo ano, eis senão quando surge uma revelação surpreendente: "O Governo confirmou a passagem por Portugal de 56 voos que iam para ou vinham da base de Guantánamo, onde os EUA têm um centro de detenção de prisioneiros estrangeiros sem a protecção jurídica de que beneficiariam em território americano, muitos deles transportados aparentemente de forma ilegal".

José Sócrates colocou mesmo Portugal na rota da infâmia e dessa imagem nunca se livrará!

sábado, 24 de maio de 2008

Sete minutos

Sete minutos é o tempo que a sonda Phoenix vai demorar para atingir a atmosfera de Marte, travar e atingir a superfície do planeta. Na NASA fala-se em "sete minutos de terror".

A memória, essa coisa prodigiosa, levou-me à mesma velocidade da Phoenix até à adolescência, e aos "Sete Minutos" de Irving Wallace, ao relato, pormenorizado, dos pensamentos de uma mulher durante os sete minutos de uma relação sexual que acaba em tribunal num verdadeiro julgamento à liberdade de expressão, em nome da moral e dos bons costumes.

E, logo a seguir, até uma notícia (onde terei eu lido isto já não recordo) que desenha os preliminares do orgasmo em sete minutos, ponto.

Não esqueço, pelo caminho, o relevo cabalístico do número.

Mas volto ao princípio para imaginar Phoenix a aterrar em Marte em rigorosos sete minutos, no exacto tempo que não consigo deixar de associar ao instante que, justamente, poderia ser o primeiro orgasmo da Humanidade.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Lata é o que é preciso

Em Portugal, o buraco entre os mais ricos e os mais pobres é tal que aqui é maior o fosso do que o que existe nos Estados Unidos da América!

Não é grande a revelação, para quem vive nos EUA, apenas uma constatação, digo eu, que vivo por aqui. Mas há um tal de Pedro Marques, de quem nunca ninguém ouviu falar mas que José Sócrates desencantou para secretário de Estado, que nos tranquiliza a todos, portugueses e americanos: afinal, os dados que serviram de base a um relatório de Bruxelas são de 2004 e, blá-blá-blá, agora já é tudo outra coisa!

É preciso muita lata!!!

Encosta-te a mim



Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.

Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Encosta-te a mim
Encosta-te a mim

Quero-te bem.

Encosta-te a mim.

(Letra e música de Jorge Palma)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

"Canta agora, filho da puta"

Mario Dominguez, de 73 anos, um coronel chileno na reforma, foi formalmente acusado pela justiça do seu país de ser o responsável pelo assassínio de Victor Jara, na esteira do golpe do general Augusto Pinochet, em 1973. Considerado um dos mais proeminentes representantes da "nova canção" latino-americana dos anos 60 e 70, era também um destacado militante comunista, apoiante do derrubado presidente democrata Salvador Allende. Capturado depois do golpe de 11 de Setembro de 1973, Jara foi levado por militares fiéis à junta para um estádio de futebol usado como campo de detenção. Documentação vinda a lume revelou que o cantor foi torturado, as suas mãos - com que tocava viola - esmagadas à coronhada e, finalmente, abatido a tiro.


Este é o timbre das notícias nos jornais do dia.
Pela minha parte prefiro recordar - foi assim que aprendi a estória, e desculpem as imprecisões históricas - que, após o golpe de 11 de Setembro (eis outro 11 de Setembro, tão grave como esse outro de que te estás a recordar, que a Comunicação Social insiste em apagar da memória!), Jara foi identificado nesse enorme campo de concentração em que fora transformado um estádio de futebol. "Canta agora, filho da puta", provocou, então, um militar (Mario Dominguez?) que pediu a exclusividade no comando da tortura a tão importante detido, ao cabo de quatro dias de porrada. Reza a estória, que aprendi da boca de um homem [que era, à época, dirigente da FNLA (Angola? Essa mesmo!) e ainda seria ministro de Estado] nada dado a mitologias esquerdistas, que o homem se ergueu e respondeu como sabia, a cantar:

(...)
Venceremos, venceremos,
Mil cadenas habrá que romper,
Venceremos, venceremos,
La miseria sabremos vencer.

Campesinos, soldados, mineros
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.

Sembraremos las tierras de gloria,
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(...)


Reza a estória do meu início de juventude que Victor Jara foi morto imediatamente a seguir.
Já adulto aprendi, através da contraprova de vários testemunhos escritos e publicados, que, naqueles dias de pesadelo, Victor Jara escreveu o seu último poema:

Somos cinco mil
en esta pequeña parte de la ciudad
Somos cinco mil
¿Cuántos seremos en total
en las ciudades y en todo el país?
Sólo aquí, diez mil manos que siembran
y hacen andar las fábricas.

¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!

Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.

Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.
Los otros cuatro quisieron quitarse todos los temores
uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.

¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!
Llevan a cabo sus planes con precisión artera
sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.
¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y de trabajo?
En estas cuatro murallas sólo existe un número
que no progresa,
que lentamente querrá más la muerte.

Pero de pronto me golpea la conciencia
y veo esta marea sin latido,
pero con el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona
lleno de dulzura.

¿Y México, Cuba y el mundo?
¡Que griten esta ignominia!
Somos diez mil manos menos
que no producen.
¿Cuántos somos en toda la Patria?
La sangre del compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.

¡Canto que mal me sales
cuando tengo que cantar espanto!
Espanto como el que vivo
como el que muero, espanto.
De verme entre tanto y tantos
momento del infinito
en que el silencio y el grito
son las metas de este canto.
Lo que veo nunca vi,
lo que he sentido y lo que siento
hará brotar el momento...



Neste prolegómeno à idade adulta continuo a recordar Victor Jara como sempre o ouvi. Assim:

quinta-feira, 15 de maio de 2008

História de um agarrado de olhar pedrado

Fixemos bem o olhar do homem na foto de Nuno Santos Ferreira. Os olhos são de José Sócrates e o olhar assemelha-se ao de um qualquer agarrado à nicotina e ao alcatrão que por aí abundam. E como agarrado que é, com tudo o que lhe exige a dependência, incluindo mentir, aquele olhar é como se fosse um olhar pedrado.

Pelos vistos, o homem fumou os cigarros que lhe apeteceu num voo fretado pelo Governo para uma visita de Estado à Venezuela. Depois do banzé que o próprio manda-chuva da ASAE criou na mudança de ano, com a entrada em vigor da lei anti-tabaco, naturalmente só podia ser notícia.

Até aqui tudo bem, não fosse o agarrado em questão primeiro-ministro e de Portugal!

Primeiro, o país viveu um dia louco, como se fumar fosse algo de ilegal só equiparável à exploração de um prostíbulo de primeira ou terceira classe, tanto faz. Ninguém distingue já a fronteira entre o que é uma infracção punível com uma coima e uma actividade ilegal. É o Portugal que temos, triste e vazio.

Segundo, o agarrado em questão assumiu a sua melhor postura e em três parágrafos simples mostrou como os portugueses foram parvos em 2005 e, muito provavelmente, voltarão a sê-lo em 2009.

Primeira tirada - "Quero fazer-vos uma declaração sobre o facto de ter fumado no avião. De facto fumei, com o ministro da Economia [Manuel Pinho] enquanto conversávamos, mas no convencimento de que se podia fumar, porque assim sempre aconteceu nas outras viagens anteriores".

Segunda tirada - "Estava convencido que não estava a violar nenhuma lei nem nenhum regulamento. Infelizmente há essa polémica em Portugal e eu quero lamentar essa polémica. Se por algum motivo violei algum regulamento, alguma lei, lamento e peço desculpa, não voltará acontecer".

Terceira tirada - "Este episódio despertou-me para o facto de os fumadores, inconscientemente, poderem violar leis e regulamentos que desconhecem. Não sei a última lei se aplica ou não aplica [ao caso do fumo em voos fretados], mas o Governo tem uma especial responsabilidade e eu também quero contribuir para isso. Tenho consciência da minha responsabilidade pessoal. Por isso, este episódio não vai voltar a acontecer, porque também decidi deixar de fumar".

Nas fumaças que, por certo, se seguirão, vem aí a poluição do Parlamento e, portanto, dos nossos noticiários televisivos e radiofónicos. e dos nossos jornais. E estou seguro que, quando menos esperarmos, ficaremos todos bem mais tranquilos ao ouvirmos este agarrado à nicotina e alcatrão de olhar pedrado dizer, tranquilamente, que fumou, sim senhor, mas que nunca travou.

sábado, 10 de maio de 2008

"Bombs: Special."



Só alguém de uma insensibilidade à prova do inimaginável não é sensível ao horror que só pode ter sido a bomba de Hiroshima, lançada pelos Estados Unidos da América sobre Hiroshima, Japão, a 6 de Agosto de 1945.

Julgava, na minha pobre ignorância, que estava já tudo dito, visto e lido. A começar pelas vítimas da talidomida, informação que preencheu parte da minha cabeça enquanto criança. Mas não!

Tropeço, pois, num artigo do jornal "Le Monde". E tropeço também, consequentemente, para quem entretanto absorveu o essencial da notícia, numa foto, essa mesmo!, a que encima esta posta. Alegadamente, o registo fotográfico foi obtido nos primeiros dias após a largada da primeira bomba atómica, às 8.17 horas daquele dia trágico para a Humanidade. O que se percebe pertence, sem a mais ligeira nuvem de dúvida, ao Inferno em vida: um chão feito numa pirâmide imperfeita de cadáveres.

Aquela foto é, apenas, uma de dez imagens inéditas obtidas por Robert L. Capp, um soldado norte-americano que participou na força de ocupação do Japão e que doou o seu espólio, em 1998, à Hoover Institution, na condição de apenas ser revelado uma década depois. Como reza a dita notícia.

Não cheguei a encontrar na Internet - também não fiz muito por isso... - as restantes imagens que, certamente, só podem espelhar o esplendor da besta humana. Mas tropeçei uma vez mais, agora noutra bestialidade de trazer por casa, embora de igual modo perturbante: a ordem de ataque emitida a partir da Califórnia à desgraçada tripulação do Enola Gay informava que a bordo seguiria uma bomba especial, assim mesmo redigido, "Special".

Quem ainda tiver curiosidade mórbida pode seguir o rasto das ligações. Eu já vi demasiado.

P.S.: A colecção de fotos de Robert L. Capp pode ser vista aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Hardcore, 1.º escalão

Mão amiga remeteu-me hoje uma informação preciosa - o "Diário do Minho" tem online um inquérito sujeito à seguinte pergunta: "Braga deve erguer uma estátua ao cónego Melo?".

Incrédulo, segui a ligação e confirmei a autenticidade da votação. A seguir, corri para o quarto-de-banho e vomitei o jantar todo. Que nojo!

sábado, 3 de maio de 2008

Vergonha!!!


Deputados do PCP cumprem um minuto de silêncio em homenagem do cónego Melo (juntamente com a bancada do PSD, do CDS e parte da do PS; os deputados dos Verdes mantiveram-se sentados e os do Bloco de Esquerda abandonaram o hemiciclo da Assembleia da República).

O cónego Melo assumiu publicamente a sua ligação ao MDLP, um grupo de extrema-direita que atacou sedes de partidos de Esquerda e assassinou à bomba militantes de Esquerda.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Movimento de Levantamento de Tropas do Continente a Favor do Rei Alberto


Eu continuo a acreditar nas potencialidades do Alberto João. E não estou só. Há uma vasta rede de blogs que se junta à vaga de fundo em curso.

Para mais fácil identificação, juntem às vossas postas a imagem da candidatura (penso que foi criada aqui), aqui ao lado, moderna, laranja, claro, dinâmica e pró-activa. Juntos seremos imensos na defesa da candidatura do Alberto João.