terça-feira, 30 de setembro de 2008

A crise só será vencida em democracia

A Câmara de Representantes dos Estados Unidos da América (EUA) “chumbou” o Plano Paulson, apresentado por George W. Bush e abençoado por Barack Obama e John McCain, que pretendia injectar 700 milhões de dólares no sistema financeiro do país.

Aparentemente, foram os próprios republicanos que roeram a corda a Bush/Paulson/Obama/McCain e, sem pestanejar, a democrata Nancy Pelosi, que preside à câmara, foi clara no que disse logo a seguir: “O que aconteceu hoje não pode ficar assim, temos de seguir em frente “. Até o nosso Teixeira dos Santos se apressou a dizer que as autoridades norte-americanas têm a “responsabilidade” de encontrar uma “rápida solução para resolver a crise financeira”.

Não sei o que acontecerá ao longo desta terça-feira, apesar de já estar agendada nova votação crucial para quinta-feira, mas seguramente será algo de dramático para todo o Mundo. Para o melhor e para o pior. Nem faço a mais pequena ideia da “poção mágica” que possa dar, ainda que relativa, tranquilidade às pessoas.

E não deixa de ser curioso que algumas das ideias expressas por pessoas muito responsáveis – George W. Bush, Nancy Pelosi, Barack Obama, John McCain, Teixeira dos Santos... – apontem, sem margem para grandes equívocos, para um caminho de imposição profundamente desrespeitadora dos mais elementares princípios da democracia, para algo que a União Europeia tentou (tentou?) ensaiar na sequência de outro “chumbo”, o “não” da Irlanda ao Tratado de Lisboa.

sábado, 27 de setembro de 2008

Paul Newman (1925-2008)

O meu mundo está mais pobre. Ontem perdeu uma das suas melhores pessoas.

Visão futurista na terra de Sócrates

O futuro a Magalhães pertence, um computador portátil para cada cidadão.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Europa, Europa"



A única música possível, repetida até à exaustão, depois de "Europa, Europa", de Agnieszka Holland.
Já agora, como foi isto possível???

sábado, 20 de setembro de 2008

Gratuito financiado com “dinheiro roubado aos bancos”

Um tablóide de 20 páginas e uma tiragem de 200 mil exemplares chamado “Crisi” foi distribuído a 17 de Setembro nas ruas de Barcelona, informando que aquela seria a sua única aparição e que a edição fora financiada por “dinheiro roubado aos bancos”.

O(s) editor(es) da publicação explica(m) no artigo principal que a verba necessária para esta iniciativa foi obtida junto de 39 entidades bancárias através de 68 operações de crédito, ascendendo a 492 mil euros (mais de 500 mil se contarmos com os juros), cedidos sem quaisquer avais ou garantias num contexto de contratação de crédito e que, garante(m), “não serão pagos”.

“Esta é uma demonstração de como a banca promove o endividamento das famílias por cima de qualquer controlo ou de qualquer medida de prevenção de riscos e de sentido comum”, lê-se no “Crisi”, disponível também online, em
http://polaris.moviments.net:8000/es/crisi.

Certa de que o caso originará uma queixa-crime, a Federação de Sindicatos de Jornalistas de Espanha (Fesp) considera que, mais insólito do que a confissão do “Crisi” de que não vai pagar a dívida contraída, só mesmo o facto de a iniciativa não ter sido noticiada pelos grandes órgãos, embora isso talvez se deva ao conteúdo da publicação, que contém artigos sobre as relações entre os principais média espanhóis e a banca.


(Texto publicado no sítio do Sindicato de Jornalistas)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Os que também bramam, mas contra os negros de merda

Ponto um: tenho há muito as maiores dúvidas sobre o papel histórico que representam homens como Hugo Chávez ou Evo Morales. Não me parecem totós de todo - como, muitas vezes, se quer fazer crer -, nem se me afiguram como os iluminados como - outras vezes - são apresentados. Aceito, por isso, a forma simplista como Pacheco Pereira retrata a situação presente.

Ponto dois: o penúltimo parágrafo de um dos posts do Abrupto - "Os homens que bramam contra os ianques de merda" - é muitíssimo bem apanhado, perfeito, justo e equilibrado. Por isso, reproduzo-o aqui, com a devida vénia, mas com o pensamento nos deputados recentemente eleitos em Angola: "É verdade que foram legitimamente eleitos, mas convém lembrar que a democracia para existir não se basta no acto eleitoral, implica respeito pela lei, que eles violam todos os dias, e pluralismo político, que eles esmagam pela prepotência do estado e se for preciso, das massas arregimentadas nas ruas."

Ponto três: vou deduzir, espero que sem precipitações, que os que contribuíram para tão estranho processo eleitoral - incluindo aqui a campanha eleitoral, a votação e o apuramento de resultados - não sejam os que também bramam, mas contra os negros de merda!

Mais uma que me escapa

Aparentemente, o senhor ministro da Economia, Manuel Pinho, não tem grande margem de manobra para intervir na regulação do preço dos combustíveis. É o que se pode ler aqui.

Levando de boa fé o que dizem os senhores que falam Economês tão bem, ora digam lá, agora, se faz favor, por que motivo o raciocínio não se aplica, também, à Região Autónoma da Madeira? É que, aqui, é um tal de Alberto João Jardim que fixa os preços dos combustíveis.

Outra coisa que também não entendo

O Hélder foi ao site da OPEP e trouxe dois gráficos fabulosos. Vejam bem os valores e as datas, e atenta-se na curvatura da linha média... Dá que pensar, não dá?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Há qualquer coisa que não entendo

A Administração Bush (sim, por aqueles lados não se diz Governo Bush...) nacionalizou a AIG, para salvar a seguradora da falência e para travar (na medida do possível) o pânico instalado há algum tempo em Wall Street.

Aqui mesmo ao lado, no mesmo dia, o presidente da Confederação Espanhola das Organizações Empresariais pediu "um parêntesis na economia livre de mercado" e exigiu do Governo de Zapatero (sim, aqui não há Administração...) um papel intervencionista para travar a crise.

Como?! Será que os capitalistas (ou os seus representantes) andam a ler Karl Marx?

Para o Alto Hama

Li com atenção (quase) todos os post's do Alto Hama publicados durante a refrega eleitoral em Angola. A muitos abanei a cabeça negativamente, o Orlando foi, em alguns casos, muito além do que deveria, na linguagem, nas análises e na abordagem dos factos, mesmo dando-lhe o desconto que deve ser dado a quem observa a milhares de quilómetros de distância e com milhões de toneladas de amor e saudade no peito.

Hoje tive uma agradável surpresa, encontrei a melhor (mais bem escrita e documentada) reportagem sobre todo o processo eleitoral angolano e como suspeito que o Orlando não dê de imediato com ela aqui ficam os links: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Evidentemente, a autora tem defeitos e virtudes, como todos nós, ao fim e ao cabo.

Mas a leitura atenta daqueles documentos é imprescindível para comprender muito do que, nas últimas semanas, aconteceu em Angola.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Richard Wright (1943-2008)

A arquitectura não lhe era era uma arte estranha e, talvez por isso mesmo, teve um papel muito importante no "Time", o conceito, ao mesmo tempo, mais geométrico e redondo de toda a obra dos Pink Floyd. Richard Right chegou ao fim da sua caminhada, vencido, aos 65 anos de idade, pela força de um cancro que nunca silenciará os graves, os agudos e, sobretudo, a harmonia de um teclado irrepetível.

Muito daquilo a que se chama o som Pink Floyd a ele se fica a dever. Felizmente, pude vê-lo a actuar em Portugal, numa noite igual a milhares de outras por esse Mundo fora.

Dois anos depois da morte de Syd Barret, o inovador guitarrista elevado à categoria dos génios perdidos (e malditos) à força de tanto Mandrax, os Pink Floyd continuam a ficar mais pobres. É o avanço da marca do tempo, a força que me faz sentir cada vez mais pobre, pobre pela partida de (mais) um que me fez ser homem.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A pulhice sem nome do jornal "Público"

A capa do jornal "Público" de ontem, dia 3, é um caso de maldade requintada elevada ao sublime extremo da pulhice inqualificável sob o manto da aparente ingenuidade. O seu conteúdo e a sua imagem não são aqui reproduzidos deliberadamente - há atitudes que merecem o desprezo total, outras há que devem ser admiradas e seguidas, outras ainda que não suscitam comentários nem reflexão, e outras, por fim, que podem e devem ser mais ou menos aplaudidas ou rejeitadas, consoante os casos. A capa em questão é aviltante e, portanto, merece total reprovação pessoal.

Vejamos. Manchete a toda a largura da página: "Prisão de Paulo Pedroso obriga Estado a pagar a maior indemnização de sempre". Pós-título: "Sentença da Relação de Lisboa realça "erro grosseiro" que causou sofrimento para "toda a vida"". Imediatamente a seguir, também de lado a lado, lê-se "Ciência - Instabilidade amorosa dos homens é genética, diz novo estudo sueco", em título inserido na foto de um nu frontal da antiguidade grega recortado em pormenor, apenas tornando visível parte de uma mão, a linha de cintura e metade das coxas e, claro, o pénis e respectivos testículos.

A decisão do Tribunal da Relação de Lisboa - que, em primeira instância, dá razão à ilegalidade da prisão preventiva de Paulo Pedroso no âmbito do caso Casa Pia - merece o respeito de quem respeita todas as outras decisões da Justiça, mesmo aquelas que nos parecem menos justas. E, honestamente, eu não sei se esta decisão é justa, não tenho sequer competências para discutir tais coisas, e por esse lado dou-me por muito feliz. O que me faz infeliz é a associação indecorosa de uma notícia que iliba um homem - que, à época, tinha justificadas e legítimas ambições pessoais de carreira profissional e política nos órgãos do Estado ou de representação externa de Portugal - de várias acusações de abuso sexual ao pénis da Grécia antiga que, como se sabe, foi fértil em casos de homosexualidade com direito a relatos e reflexões, inclusive, na Bíblia. Nenhuma mente ingénua aguenta, sem um esgar malicioso, tão casual associação. Nem aquelas que acreditam piamente numa das mais conhecidas máximas do Padre Américo, precisamente!, essa que diz não existirem meninos maus...

O caso é grave. Em 2003, Portugal viveu dias de absoluta excepcionalidade, como aqui ficam retratados: há jovens que se diziam sexualmente abusados, há um homem, Paulo Pedroso, que foi destruído em público, há uma direcção política que foi literalmente decapitada. Se houve, ou não, cabala, está por demonstrar, embora do ponto de vista político esteja pessoalmente convicto dela, e estou à vontade para o afirmar até porque nunca, sequer, me senti próximo do Partido Socialista. Mas, cinco anos depois o que sobressai aos olhos das pessoas que passam nas ruas? Fica para a História a capa de um "jornal de referência", tido, até por mim!, como muito relevante para a Imprensa portuguesa, que pisa o risco, ultrapassa todas as marcas e, seguramente, também vai sair incólume deste "erro grosseiro".

Vejo aqui, portanto, um caso simbólico de pulhice inominável no rosto impávido e sereno de quem diz respeitar, e faz publicar!, princípios éticos. As picardias e as maldades fazem-se, claro está: nenhum jornalista está acima da sua própria natureza, enquanto ser humano. Mas sob o disfarce da interpretação dos factos não nos devemos ultrapassar a nós próprios, sob pena de perdermos, no imediato, a dignidade com que logramos construir o capital (humano, intelectual, ético e material) de que, afinal de contas, nos julgávamos feitos.

Enquanto assim for, passem bem sem mim.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Morreu Joaquim Castro Caldas


Sem ti, a cultura do Porto ficou ainda mais pobre.