quinta-feira, 15 de maio de 2008

História de um agarrado de olhar pedrado

Fixemos bem o olhar do homem na foto de Nuno Santos Ferreira. Os olhos são de José Sócrates e o olhar assemelha-se ao de um qualquer agarrado à nicotina e ao alcatrão que por aí abundam. E como agarrado que é, com tudo o que lhe exige a dependência, incluindo mentir, aquele olhar é como se fosse um olhar pedrado.

Pelos vistos, o homem fumou os cigarros que lhe apeteceu num voo fretado pelo Governo para uma visita de Estado à Venezuela. Depois do banzé que o próprio manda-chuva da ASAE criou na mudança de ano, com a entrada em vigor da lei anti-tabaco, naturalmente só podia ser notícia.

Até aqui tudo bem, não fosse o agarrado em questão primeiro-ministro e de Portugal!

Primeiro, o país viveu um dia louco, como se fumar fosse algo de ilegal só equiparável à exploração de um prostíbulo de primeira ou terceira classe, tanto faz. Ninguém distingue já a fronteira entre o que é uma infracção punível com uma coima e uma actividade ilegal. É o Portugal que temos, triste e vazio.

Segundo, o agarrado em questão assumiu a sua melhor postura e em três parágrafos simples mostrou como os portugueses foram parvos em 2005 e, muito provavelmente, voltarão a sê-lo em 2009.

Primeira tirada - "Quero fazer-vos uma declaração sobre o facto de ter fumado no avião. De facto fumei, com o ministro da Economia [Manuel Pinho] enquanto conversávamos, mas no convencimento de que se podia fumar, porque assim sempre aconteceu nas outras viagens anteriores".

Segunda tirada - "Estava convencido que não estava a violar nenhuma lei nem nenhum regulamento. Infelizmente há essa polémica em Portugal e eu quero lamentar essa polémica. Se por algum motivo violei algum regulamento, alguma lei, lamento e peço desculpa, não voltará acontecer".

Terceira tirada - "Este episódio despertou-me para o facto de os fumadores, inconscientemente, poderem violar leis e regulamentos que desconhecem. Não sei a última lei se aplica ou não aplica [ao caso do fumo em voos fretados], mas o Governo tem uma especial responsabilidade e eu também quero contribuir para isso. Tenho consciência da minha responsabilidade pessoal. Por isso, este episódio não vai voltar a acontecer, porque também decidi deixar de fumar".

Nas fumaças que, por certo, se seguirão, vem aí a poluição do Parlamento e, portanto, dos nossos noticiários televisivos e radiofónicos. e dos nossos jornais. E estou seguro que, quando menos esperarmos, ficaremos todos bem mais tranquilos ao ouvirmos este agarrado à nicotina e alcatrão de olhar pedrado dizer, tranquilamente, que fumou, sim senhor, mas que nunca travou.

Nenhum comentário: