Investi uma boa meia hora nas primeiras dez páginas do Google à cata de material sobre o Acácio, que nos deixou nesta manhã de domingo. E deparei, salvo uma ou duas excepções, com um deserto de repetições mecânicas feitas a partir de um texto da agência Lusa. O que muito diz do actual jornalismo e, até, da sociedade portuguesa.
Tive a honra de conhecer este homem generoso, embora já nos seus últimos anos de vida, a lutar de pé contra uma doença que se sabe, por agora, invencível. Trabalhei com ele durante algum tempo na Administração da Casa da Imprensa e pude privar com alguém, ao mesmo tempo, íntegro, contraditório, doce, irado, sempre disponível para o que fosse necessário, polémico, solidário e de uma franqueza muito, muito rara. Um Homem, o que nos dias de hoje é coisa extremamente difícil de repetir.
O Acácio viveu e trabalhou no tempo em que o grito e o berro se impunham, no desespero da causa, nas redacções dos jornais. Não o conheci nesse período, como disse, mas tenho saudade do tempo em que, outros como ele - que, felizmente!, alguns ainda conheci e com quem trabalhei - faziam dos jornais a sua própria casa, empenhando-se numa luta desenfreada, com todos os prejuízos pessoais que se possam conceber, apenas e só para levar "a" notícia ou "a" reportagem ao leitor. Leitor esse que nos comprava e que, portanto, em última e assumida análise, era o nosso patrão.
O Acácio fazia parte de uma estirpe que não se vergou às prebendas do "jornalismo moderno" (entre aspas, se faz favor), nem se deixou encantar pela sereia dos escudos (ou dos euros!). Acreditava piamente no que fazia em prol do seu semelhante, a maior parte das vezes sem sequer justa retribuição.
Começo a odiar este blogue, que às vezes roça o obituário oficial do meu reino íntimo, mas queria dizer aqui e assinar por baixo que lamento não ter podido aprender mais com o Acácio, como profissional e como cidadão. E, por isso, vou manter o seu número de telemóvel e o seu endereço de correio electrónico na minha agenda de contactos. Quando por lá passar sei que vou sorrir e lembrar-me que tive a sorte de privar, ainda que por breve tempo, com um cidadão de corpo inteiro.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Aqui se fala de um homem íntegro e com uma generosidade sem exemplo
às segunda-feira, outubro 27, 2008
Marcadores: Angola, Cultura, Jornalismo, Obituário, Outra vida, Portugal
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário